2 de mai. de 2025
Notícia
Dois padres são “eleitos” como bispos católicos na China após a morte do Papa Francisco
Dois padres são “eleitos” como bispos católicos na China após a morte do Papa Francisco
Dois padres foram escolhidos como bispos na China em meio à vacância da Sé Apostólica, desafiando a autoridade do Vaticano.

Autoridades chinesas desafiam Roma durante o período de sede vacante
Durante o período de sede vacante, intervalo entre o fim de um pontificado e o início de outro, autoridades chinesas tomaram medidas para afirmar a autonomia da Igreja Católica na China em relação a Roma, ao “elegerem” unilateralmente dois novos bispos. Um deles foi indicado para uma diocese que já conta com um bispo nomeado oficialmente pelo Vaticano.
No dia 28 de abril, o padre Wu Jianlin, vigário geral de Xangai, foi escolhido por uma assembleia de sacerdotes locais como novo bispo auxiliar da cidade. No dia seguinte, o padre Li Jianlin foi “eleito” bispo da Diocese de Xinxiang.
Até a tarde de quinta-feira, não havia relatos de que qualquer um dos dois sacerdotes tivesse sido oficialmente instalado como bispo.

Desafios diplomáticos para o próximo papa
As nomeações ocorrem durante o sede vacante, iniciado após a morte do Papa Francisco em 21 de abril. Durante esse período, a Santa Sé não pode ratificar nomeações episcopais. O conclave que elegerá o novo papa está previsto para começar em 7 de maio.
Essas nomeações devem se tornar um dos primeiros desafios diplomáticos do novo pontífice.
A situação delicada em Xinxiang
A nomeação para a Diocese de Xinxiang é especialmente delicada. O Vaticano reconhece oficialmente dom Joseph Zhang Weizhu como o legítimo bispo da diocese. Nomeado clandestinamente por São João Paulo II em 1991, dom Zhang tem exercido seu ministério por décadas sem o reconhecimento do Estado chinês, sendo preso diversas vezes.
Sua detenção mais recente ocorreu em 2021, enquanto se recuperava de uma cirurgia para tratamento de câncer. Segundo relatório do Hudson Institute publicado em 2024, ele permanece sob custódia, sem julgamento.
Já o padre Li Jianlin — reconhecido por Pequim como o novo bispo da diocese — tem histórico de alinhamento com o Partido Comunista. Em 2018, ele assinou uma diretiva que proibia a participação de menores de idade nas Missas da província de Henan. Para muitos observadores, sua nomeação representa um claro desafio à autoridade do Vaticano, especialmente considerando a presença de um bispo legitimamente nomeado por Roma.

Relação frágil entre o Vaticano e a China
Esse episódio evidencia a relação frágil e muitas vezes opaca entre o Vaticano e o governo chinês. Em 2018, as duas partes assinaram um acordo provisório, renovado mais recentemente em outubro de 2024, que previa um processo conjunto para a nomeação de bispos na China.
Embora os termos do acordo nunca tenham sido divulgados oficialmente, a agência Asia News informou que, mesmo sob esse acordo, o governo chinês normalmente apresentava à Santa Sé apenas um candidato, previamente escolhido por assembleias de clérigos filiados à Associação Patriótica Católica Chinesa — cabendo ao papa aprovar ou rejeitar o nome.
Nos últimos anos, autoridades do Vaticano admitiram que a China violou esse acordo em diversas ocasiões.
Precedentes e tensões anteriores
Em 2023, o bispo Shen Bin foi instalado pelas autoridades chinesas em Xangai sem aprovação da Santa Sé. Posteriormente, o Papa Francisco o reconheceu “pelo bem da diocese” — decisão que gerou polêmica. A nomeação de Wu como bispo auxiliar de Shen, nesta semana, parece consolidar ainda mais seu poder em Xangai.
Durante o pontificado do Papa Francisco, o Vaticano foi criticado por muitos por sua resposta considerada branda em relação às violações de direitos humanos na China, incluindo a perseguição aos muçulmanos uigures e a prisão do ativista católico Jimmy Lai, defensor da democracia em Hong Kong.
Grupos de direitos humanos também denunciaram a contínua perseguição ao clero católico que atua na clandestinidade, informando que sete bispos estão atualmente detidos sem julgamento.
Restrições missionárias e silêncio diante da morte do Papa
No dia 1º de maio, entraram em vigor novas restrições impostas pelo Departamento da Frente Unida da China, que proíbem clérigos estrangeiros de celebrar atividades religiosas com cidadãos chineses sem a permissão expressa do governo — medida que limita severamente a atuação missionária no país.
Enquanto isso, instituições católicas reconhecidas pelo Estado chinês demonstraram pouca atenção à morte do Papa Francisco. A Associação Patriótica Católica mencionou o falecimento brevemente em seu site, dando maior destaque à celebração do 76º aniversário da vitória comunista em Nanjing.
Em 23 de abril, fiéis católicos se reuniram em Nanjing para homenagear soldados do Exército de Libertação Popular, sem qualquer menção ao pontífice falecido, conforme relatado pelo blog Bitter Winter.

Diplomacia futura e expectativa pelo novo papa
Com a aproximação do conclave, a forma como o novo papa irá conduzir a delicada relação com o governo de Pequim — especialmente diante de nomeações episcopais realizadas sem a anuência de Roma — será determinante para a próxima fase da diplomacia vaticana com a China.
🕊️ Artigo traduzido de: Catholic News Agency. Autoria: Courtney Mares.
✍️ Tradução: Equipe Coisas do Alto
🔗 Link para o artigo original
Autoridades chinesas desafiam Roma durante o período de sede vacante
Durante o período de sede vacante, intervalo entre o fim de um pontificado e o início de outro, autoridades chinesas tomaram medidas para afirmar a autonomia da Igreja Católica na China em relação a Roma, ao “elegerem” unilateralmente dois novos bispos. Um deles foi indicado para uma diocese que já conta com um bispo nomeado oficialmente pelo Vaticano.
No dia 28 de abril, o padre Wu Jianlin, vigário geral de Xangai, foi escolhido por uma assembleia de sacerdotes locais como novo bispo auxiliar da cidade. No dia seguinte, o padre Li Jianlin foi “eleito” bispo da Diocese de Xinxiang.
Até a tarde de quinta-feira, não havia relatos de que qualquer um dos dois sacerdotes tivesse sido oficialmente instalado como bispo.

Desafios diplomáticos para o próximo papa
As nomeações ocorrem durante o sede vacante, iniciado após a morte do Papa Francisco em 21 de abril. Durante esse período, a Santa Sé não pode ratificar nomeações episcopais. O conclave que elegerá o novo papa está previsto para começar em 7 de maio.
Essas nomeações devem se tornar um dos primeiros desafios diplomáticos do novo pontífice.
A situação delicada em Xinxiang
A nomeação para a Diocese de Xinxiang é especialmente delicada. O Vaticano reconhece oficialmente dom Joseph Zhang Weizhu como o legítimo bispo da diocese. Nomeado clandestinamente por São João Paulo II em 1991, dom Zhang tem exercido seu ministério por décadas sem o reconhecimento do Estado chinês, sendo preso diversas vezes.
Sua detenção mais recente ocorreu em 2021, enquanto se recuperava de uma cirurgia para tratamento de câncer. Segundo relatório do Hudson Institute publicado em 2024, ele permanece sob custódia, sem julgamento.
Já o padre Li Jianlin — reconhecido por Pequim como o novo bispo da diocese — tem histórico de alinhamento com o Partido Comunista. Em 2018, ele assinou uma diretiva que proibia a participação de menores de idade nas Missas da província de Henan. Para muitos observadores, sua nomeação representa um claro desafio à autoridade do Vaticano, especialmente considerando a presença de um bispo legitimamente nomeado por Roma.

Relação frágil entre o Vaticano e a China
Esse episódio evidencia a relação frágil e muitas vezes opaca entre o Vaticano e o governo chinês. Em 2018, as duas partes assinaram um acordo provisório, renovado mais recentemente em outubro de 2024, que previa um processo conjunto para a nomeação de bispos na China.
Embora os termos do acordo nunca tenham sido divulgados oficialmente, a agência Asia News informou que, mesmo sob esse acordo, o governo chinês normalmente apresentava à Santa Sé apenas um candidato, previamente escolhido por assembleias de clérigos filiados à Associação Patriótica Católica Chinesa — cabendo ao papa aprovar ou rejeitar o nome.
Nos últimos anos, autoridades do Vaticano admitiram que a China violou esse acordo em diversas ocasiões.
Precedentes e tensões anteriores
Em 2023, o bispo Shen Bin foi instalado pelas autoridades chinesas em Xangai sem aprovação da Santa Sé. Posteriormente, o Papa Francisco o reconheceu “pelo bem da diocese” — decisão que gerou polêmica. A nomeação de Wu como bispo auxiliar de Shen, nesta semana, parece consolidar ainda mais seu poder em Xangai.
Durante o pontificado do Papa Francisco, o Vaticano foi criticado por muitos por sua resposta considerada branda em relação às violações de direitos humanos na China, incluindo a perseguição aos muçulmanos uigures e a prisão do ativista católico Jimmy Lai, defensor da democracia em Hong Kong.
Grupos de direitos humanos também denunciaram a contínua perseguição ao clero católico que atua na clandestinidade, informando que sete bispos estão atualmente detidos sem julgamento.
Restrições missionárias e silêncio diante da morte do Papa
No dia 1º de maio, entraram em vigor novas restrições impostas pelo Departamento da Frente Unida da China, que proíbem clérigos estrangeiros de celebrar atividades religiosas com cidadãos chineses sem a permissão expressa do governo — medida que limita severamente a atuação missionária no país.
Enquanto isso, instituições católicas reconhecidas pelo Estado chinês demonstraram pouca atenção à morte do Papa Francisco. A Associação Patriótica Católica mencionou o falecimento brevemente em seu site, dando maior destaque à celebração do 76º aniversário da vitória comunista em Nanjing.
Em 23 de abril, fiéis católicos se reuniram em Nanjing para homenagear soldados do Exército de Libertação Popular, sem qualquer menção ao pontífice falecido, conforme relatado pelo blog Bitter Winter.

Diplomacia futura e expectativa pelo novo papa
Com a aproximação do conclave, a forma como o novo papa irá conduzir a delicada relação com o governo de Pequim — especialmente diante de nomeações episcopais realizadas sem a anuência de Roma — será determinante para a próxima fase da diplomacia vaticana com a China.
🕊️ Artigo traduzido de: Catholic News Agency. Autoria: Courtney Mares.
✍️ Tradução: Equipe Coisas do Alto
🔗 Link para o artigo original