6 de mai. de 2025

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"Trabalhei 18 Anos no Vaticano, e este Será o Conclave Mais Imprevisível da História!"

"Trabalhei 18 Anos no Vaticano, e este Será o Conclave Mais Imprevisível da História!"

Com 133 eleitores, tendências opostas e poucos se conhecendo, o conclave de 2025 traz uma tensão inédita. Um ex-oficial do Vaticano analisa o que pode acontecer.

Por Ariel Beramendi
Domingo, 4 de maio de 2025 – 14h00 BST

À medida que os cardeais se preparam para eleger o novo Papa, uma coisa é certa: este será o conclave mais imprevisível da história recente da Igreja Católica. Trabalhei no Vaticano por 18 anos e, ao retornar a Roma no mês passado para o funeral de Papa Francisco, já era possível sentir a tensão no ar.

Alguns colegas e observadores com quem conversei acreditam que este será um conclave particularmente difícil, devido ao seu tamanho — são 133 eleitores, contra 117 na última eleição — e ao fato de que muitos cardeais não se conhecem pessoalmente. Isso se deve, em grande parte, à decisão de Francisco de diversificar o colégio cardinalício, nomeando representantes de todas as partes do mundo: dos 133 eleitores, 108 foram criados por ele.

Outros observadores sugerem que os cardeais tentarão chegar a uma decisão em menos de uma semana, para evitar a imagem de uma Igreja dividida.

Três correntes em disputa: progressistas, conservadores e moderados

O filme Conclave, baseado no romance de Robert Harris, retrata uma disputa intensa entre alas conservadoras e progressistas dentro do colégio cardinalício, com campanhas veladas e eventos externos interferindo na eleição. Embora parcialmente ficcional, a narrativa não está distante da realidade: existem, sim, essas correntes na Igreja, mas há também uma ala moderada que o filme não representa.

A ala progressista é formada por cardeais que desejam manter o impulso reformista de Francisco, buscando modernizar a estrutura da Igreja e aprofundar o diálogo com o mundo contemporâneo. Entre seus representantes mais destacados estão o cardeal italiano Matteo Zuppi e o cardeal alemão Reinhard Marx, que tem falado abertamente sobre a necessidade de reformas na Igreja.

A ala conservadora, por outro lado, está centrada na preservação da doutrina católica em sua forma tradicional. O cardeal húngaro Péter Erdő e o congolês Fridolin Ambongo são dois dos nomes mais proeminentes desse grupo.

A corrente moderada tenta construir pontes entre as duas posições, adotando uma abordagem baseada no diálogo e na busca pelo bem comum. Ela entende a Igreja como um ator entre outros na arena da cultura, da política e das religiões. Seus representantes incluem o cardeal americano Robert Francis Prevost, atualmente na Cúria Romana, e o francês Jean-Marc Aveline.

Pré-conclave: a fase crucial de discernimento

Antes do início oficial do conclave, os cardeais já participaram de reuniões preparatórias, conhecidas como “pré-conclave”. É nelas que expõem suas visões sobre o futuro da Igreja e compartilham a realidade das regiões de onde vêm — incluindo contextos de perseguição, secularização ou crescimento acelerado do número de fiéis.

Dessas conversas emerge o perfil desejado para o próximo pontífice. É também nesse momento que alianças começam a se formar. É um erro supor que os 108 cardeais nomeados por Francisco votarão em um candidato reformista. Muitos foram escolhidos por motivos administrativos ou pastorais e, com o tempo, formaram suas próprias opiniões sobre o rumo da Igreja.

O “grande eleitor” e os nomes mais citados

Historicamente, surgem no conclave os chamados “grandes eleitores” — cardeais com forte influência ou oriundos de dioceses financeiramente poderosas. Foi o caso do bispo polonês Andrzej Maria Deskur, que promoveu incansavelmente a candidatura de Karol Wojtyła em 1978, sofrendo até um AVC na véspera do conclave. João Paulo II o visitou no hospital após a eleição e posteriormente o tornou cardeal.

O cardeal brasileiro Cláudio Hummes teve papel semelhante em 2013, encorajando Jorge Bergoglio e sugerindo que adotasse o nome “Francisco”, dizendo: “Não se esqueça dos pobres.”

Atualmente, os nomes mais citados incluem:

  • Pietro Parolin, 70 anos, ex-secretário de Estado do Vaticano, moderado e diplomata respeitado.

  • Matteo Zuppi, 69 anos, presidente da Conferência Episcopal Italiana, engajado em mediação de conflitos.

  • Pierbattista Pizzaballa, 60 anos, patriarca latino de Jerusalém, cuja experiência no Oriente Médio tem sido admirada, mas cuja idade ainda pode pesar contra.

  • Luis Tagle, 67 anos, filipino, com estilo pastoral similar ao de Francisco.

  • Jean-Marc Aveline, francês, conhecido pelo diálogo inter-religioso e visão pastoral equilibrada.

Preparativos finais: sigilo absoluto

Enquanto os cardeais finalizam suas conversas, a Capela Sistina está sendo equipada com mesas e cadeiras. Equipes de segurança do Vaticano verificam minuciosamente o local em busca de escutas ou equipamentos de transmissão, para garantir o sigilo absoluto exigido.

Uma vez iniciado o conclave, os cardeais eleitores estarão completamente isolados do mundo exterior, conforme determina a tradição, selada com a ordem “Extra omnes” — “Todos fora”.

A decisão que tomarão — após oração, escuta e discernimento — afetará mais de um bilhão de católicos ao redor do mundo. Mais do que uma disputa entre linhas teológicas ou regiões do globo, a missão do conclave é uma só: escolher aquele que, na Providência divina, está chamado a guiar a Igreja nos caminhos da verdade e da caridade.

Fonte: The Guardian
Autor: Ariel Beramendi (ex-oficial do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé)
Tradução: Equipe Coisas do Alto

Por Ariel Beramendi
Domingo, 4 de maio de 2025 – 14h00 BST

À medida que os cardeais se preparam para eleger o novo Papa, uma coisa é certa: este será o conclave mais imprevisível da história recente da Igreja Católica. Trabalhei no Vaticano por 18 anos e, ao retornar a Roma no mês passado para o funeral de Papa Francisco, já era possível sentir a tensão no ar.

Alguns colegas e observadores com quem conversei acreditam que este será um conclave particularmente difícil, devido ao seu tamanho — são 133 eleitores, contra 117 na última eleição — e ao fato de que muitos cardeais não se conhecem pessoalmente. Isso se deve, em grande parte, à decisão de Francisco de diversificar o colégio cardinalício, nomeando representantes de todas as partes do mundo: dos 133 eleitores, 108 foram criados por ele.

Outros observadores sugerem que os cardeais tentarão chegar a uma decisão em menos de uma semana, para evitar a imagem de uma Igreja dividida.

Três correntes em disputa: progressistas, conservadores e moderados

O filme Conclave, baseado no romance de Robert Harris, retrata uma disputa intensa entre alas conservadoras e progressistas dentro do colégio cardinalício, com campanhas veladas e eventos externos interferindo na eleição. Embora parcialmente ficcional, a narrativa não está distante da realidade: existem, sim, essas correntes na Igreja, mas há também uma ala moderada que o filme não representa.

A ala progressista é formada por cardeais que desejam manter o impulso reformista de Francisco, buscando modernizar a estrutura da Igreja e aprofundar o diálogo com o mundo contemporâneo. Entre seus representantes mais destacados estão o cardeal italiano Matteo Zuppi e o cardeal alemão Reinhard Marx, que tem falado abertamente sobre a necessidade de reformas na Igreja.

A ala conservadora, por outro lado, está centrada na preservação da doutrina católica em sua forma tradicional. O cardeal húngaro Péter Erdő e o congolês Fridolin Ambongo são dois dos nomes mais proeminentes desse grupo.

A corrente moderada tenta construir pontes entre as duas posições, adotando uma abordagem baseada no diálogo e na busca pelo bem comum. Ela entende a Igreja como um ator entre outros na arena da cultura, da política e das religiões. Seus representantes incluem o cardeal americano Robert Francis Prevost, atualmente na Cúria Romana, e o francês Jean-Marc Aveline.

Pré-conclave: a fase crucial de discernimento

Antes do início oficial do conclave, os cardeais já participaram de reuniões preparatórias, conhecidas como “pré-conclave”. É nelas que expõem suas visões sobre o futuro da Igreja e compartilham a realidade das regiões de onde vêm — incluindo contextos de perseguição, secularização ou crescimento acelerado do número de fiéis.

Dessas conversas emerge o perfil desejado para o próximo pontífice. É também nesse momento que alianças começam a se formar. É um erro supor que os 108 cardeais nomeados por Francisco votarão em um candidato reformista. Muitos foram escolhidos por motivos administrativos ou pastorais e, com o tempo, formaram suas próprias opiniões sobre o rumo da Igreja.

O “grande eleitor” e os nomes mais citados

Historicamente, surgem no conclave os chamados “grandes eleitores” — cardeais com forte influência ou oriundos de dioceses financeiramente poderosas. Foi o caso do bispo polonês Andrzej Maria Deskur, que promoveu incansavelmente a candidatura de Karol Wojtyła em 1978, sofrendo até um AVC na véspera do conclave. João Paulo II o visitou no hospital após a eleição e posteriormente o tornou cardeal.

O cardeal brasileiro Cláudio Hummes teve papel semelhante em 2013, encorajando Jorge Bergoglio e sugerindo que adotasse o nome “Francisco”, dizendo: “Não se esqueça dos pobres.”

Atualmente, os nomes mais citados incluem:

  • Pietro Parolin, 70 anos, ex-secretário de Estado do Vaticano, moderado e diplomata respeitado.

  • Matteo Zuppi, 69 anos, presidente da Conferência Episcopal Italiana, engajado em mediação de conflitos.

  • Pierbattista Pizzaballa, 60 anos, patriarca latino de Jerusalém, cuja experiência no Oriente Médio tem sido admirada, mas cuja idade ainda pode pesar contra.

  • Luis Tagle, 67 anos, filipino, com estilo pastoral similar ao de Francisco.

  • Jean-Marc Aveline, francês, conhecido pelo diálogo inter-religioso e visão pastoral equilibrada.

Preparativos finais: sigilo absoluto

Enquanto os cardeais finalizam suas conversas, a Capela Sistina está sendo equipada com mesas e cadeiras. Equipes de segurança do Vaticano verificam minuciosamente o local em busca de escutas ou equipamentos de transmissão, para garantir o sigilo absoluto exigido.

Uma vez iniciado o conclave, os cardeais eleitores estarão completamente isolados do mundo exterior, conforme determina a tradição, selada com a ordem “Extra omnes” — “Todos fora”.

A decisão que tomarão — após oração, escuta e discernimento — afetará mais de um bilhão de católicos ao redor do mundo. Mais do que uma disputa entre linhas teológicas ou regiões do globo, a missão do conclave é uma só: escolher aquele que, na Providência divina, está chamado a guiar a Igreja nos caminhos da verdade e da caridade.

Fonte: The Guardian
Autor: Ariel Beramendi (ex-oficial do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé)
Tradução: Equipe Coisas do Alto