4 de mai. de 2025
Notícia
Cardeais discutem problemas do século XX em um mundo do século XXI
Cardeais discutem problemas do século XX em um mundo do século XXI
Às vésperas do conclave, cardeais discutem questões tradicionais enquanto o mundo enfrenta desafios contemporâneos, como a inteligência artificial e as relações digitais.

Um dos comentários que circula nos bastidores do conclave que se aproxima — marcado para começar no dia 7 de maio — é que muitos dos cardeais eleitores não se conhecem bem. Embora não sejam completos estranhos, a maioria deles não tem familiaridade real uns com os outros.
Um número recorde de cardeais está apto a votar no novo Papa: são 135 com menos de 80 anos, embora pelo menos dois não comparecerão.

A maioria foi nomeada pelo Papa Francisco. Muitos vêm de países que jamais haviam tido um cardeal antes, e esses prelados raramente estão em Roma, convivendo com os demais membros deste seleto colégio.
Mas fico pensando: será que ao menos se conhecem pelo Facebook ou Instagram?
Essa ideia me ocorreu ao ver uma postagem na rede X (antigo Twitter).
O vídeo mostrava uma entrevista com Mark Zuckerberg — fundador do Facebook — sobre o avanço da inteligência artificial nas redes sociais e como as pessoas estão começando a formar “relacionamentos pessoais” com figuras artificiais.

“Conforme o ciclo de personalização se intensifica e a IA passa a conhecer você cada vez melhor, isso se tornará realmente envolvente”, afirma Zuckerberg.
Ele cita uma estatística segundo a qual o americano médio teria menos de três amigos.
“O ser humano médio tem demanda por algo significativamente maior”, observa. “Acho que seriam uns 15 amigos, talvez.” Segundo ele, o problema está na falta de tempo para manter tantas relações.
Zuckerberg acredita que essa carência explica a crescente popularidade dos “amigos virtuais”.
Esse fenômeno, vale lembrar, antecede a explosão recente da IA. Há muito tempo, pessoas colecionam centenas de “amigos” no Facebook — muitos dos quais jamais conheceram pessoalmente.
Essas “amizades” virtuais envolvem versões cuidadosamente editadas de si mesmos — versões idealizadas, irreais, por vezes até distorcidas da própria identidade.
Lembro que quando o Facebook foi lançado, eu estava na casa dos 30. Hoje, com mais de 50 anos, reencontrei muitos amigos de escola e universidade (o que é maravilhoso), mas também há na minha lista pessoas que eu nunca conheci de fato. Confesso que prefiro o termo “seguidores”, como se usa no Instagram ou na rede X.
Há escândalos frequentes nas redes sociais, em que usuários são criticados por declarações consideradas ofensivas. A defesa típica é: “Foi só uma piada!”. Talvez até seja verdade: piadas que fariam sentido entre amigos íntimos podem parecer grosseiras fora de contexto.
Mas nas redes, milhares curtem a postagem: alguns porque realmente conhecem o autor, outros porque entenderam a piada, e alguns porque — sejamos francos — são sociopatas. E outros milhares se ofendem, justamente por não conhecerem o contexto.
Os algoritmos que decidem o que cada usuário vê nas plataformas — agora incorporados também a “pessoas artificiais” — observam o comportamento, os posts e interações de cada um, e mostram conteúdos que “acham” que o usuário vai gostar... ou que vão provocá-lo. Muitas vezes, é a mesma coisa. O importante é obter um clique.
Isso cria bolhas ideológicas e reforça uma cultura tribal com a qual a sociedade ainda não sabe lidar.
Mesmo assim, Zuckerberg não parece ver perigo nos “amigos artificiais”. Pelo contrário, ele sugere que eles podem ter um papel positivo.
“Acho que muitas dessas coisas que hoje ainda carregam certo estigma, com o tempo vão ganhar um vocabulário novo na sociedade. Vamos aprender a explicar por que são valiosas e por que quem recorre a elas está fazendo algo racional, útil para sua vida... embora ainda estejamos nos primeiros passos”, afirma.
Ao ler as notícias — e admito minha culpa nisso — percebemos que os debates que envolvem a Igreja no contexto do próximo conclave giram em torno de temas antigos: valores tradicionais, Missa em latim, casamento entre pessoas do mesmo sexo, ordenação de mulheres. São questões típicas da segunda metade do século XX.
Mas o início do século XXI apresenta outros dilemas: o próprio conceito de humanidade está em debate. Empresas de tecnologia estão promovendo o “pós-humanismo”.
“Há empresas desenvolvendo terapeutas virtuais, namoradas virtuais... mas ainda estamos no início disso tudo”, diz Zuckerberg em sua entrevista.
Talvez eu seja ingênuo, mas acredito que os cardeais fariam bem, ao entrarem no conclave na próxima semana, se recordassem das palavras de Nosso Senhor no Evangelho segundo São João:
“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.”
É provável que Ele não estivesse buscando “likes”.
Artigo traduzido de: The Tablet. Autoria: Charles Collins. Tradução: Equipe Coisas do Alto.
Link para o artigo original
Um dos comentários que circula nos bastidores do conclave que se aproxima — marcado para começar no dia 7 de maio — é que muitos dos cardeais eleitores não se conhecem bem. Embora não sejam completos estranhos, a maioria deles não tem familiaridade real uns com os outros.
Um número recorde de cardeais está apto a votar no novo Papa: são 135 com menos de 80 anos, embora pelo menos dois não comparecerão.

A maioria foi nomeada pelo Papa Francisco. Muitos vêm de países que jamais haviam tido um cardeal antes, e esses prelados raramente estão em Roma, convivendo com os demais membros deste seleto colégio.
Mas fico pensando: será que ao menos se conhecem pelo Facebook ou Instagram?
Essa ideia me ocorreu ao ver uma postagem na rede X (antigo Twitter).
O vídeo mostrava uma entrevista com Mark Zuckerberg — fundador do Facebook — sobre o avanço da inteligência artificial nas redes sociais e como as pessoas estão começando a formar “relacionamentos pessoais” com figuras artificiais.

“Conforme o ciclo de personalização se intensifica e a IA passa a conhecer você cada vez melhor, isso se tornará realmente envolvente”, afirma Zuckerberg.
Ele cita uma estatística segundo a qual o americano médio teria menos de três amigos.
“O ser humano médio tem demanda por algo significativamente maior”, observa. “Acho que seriam uns 15 amigos, talvez.” Segundo ele, o problema está na falta de tempo para manter tantas relações.
Zuckerberg acredita que essa carência explica a crescente popularidade dos “amigos virtuais”.
Esse fenômeno, vale lembrar, antecede a explosão recente da IA. Há muito tempo, pessoas colecionam centenas de “amigos” no Facebook — muitos dos quais jamais conheceram pessoalmente.
Essas “amizades” virtuais envolvem versões cuidadosamente editadas de si mesmos — versões idealizadas, irreais, por vezes até distorcidas da própria identidade.
Lembro que quando o Facebook foi lançado, eu estava na casa dos 30. Hoje, com mais de 50 anos, reencontrei muitos amigos de escola e universidade (o que é maravilhoso), mas também há na minha lista pessoas que eu nunca conheci de fato. Confesso que prefiro o termo “seguidores”, como se usa no Instagram ou na rede X.
Há escândalos frequentes nas redes sociais, em que usuários são criticados por declarações consideradas ofensivas. A defesa típica é: “Foi só uma piada!”. Talvez até seja verdade: piadas que fariam sentido entre amigos íntimos podem parecer grosseiras fora de contexto.
Mas nas redes, milhares curtem a postagem: alguns porque realmente conhecem o autor, outros porque entenderam a piada, e alguns porque — sejamos francos — são sociopatas. E outros milhares se ofendem, justamente por não conhecerem o contexto.
Os algoritmos que decidem o que cada usuário vê nas plataformas — agora incorporados também a “pessoas artificiais” — observam o comportamento, os posts e interações de cada um, e mostram conteúdos que “acham” que o usuário vai gostar... ou que vão provocá-lo. Muitas vezes, é a mesma coisa. O importante é obter um clique.
Isso cria bolhas ideológicas e reforça uma cultura tribal com a qual a sociedade ainda não sabe lidar.
Mesmo assim, Zuckerberg não parece ver perigo nos “amigos artificiais”. Pelo contrário, ele sugere que eles podem ter um papel positivo.
“Acho que muitas dessas coisas que hoje ainda carregam certo estigma, com o tempo vão ganhar um vocabulário novo na sociedade. Vamos aprender a explicar por que são valiosas e por que quem recorre a elas está fazendo algo racional, útil para sua vida... embora ainda estejamos nos primeiros passos”, afirma.
Ao ler as notícias — e admito minha culpa nisso — percebemos que os debates que envolvem a Igreja no contexto do próximo conclave giram em torno de temas antigos: valores tradicionais, Missa em latim, casamento entre pessoas do mesmo sexo, ordenação de mulheres. São questões típicas da segunda metade do século XX.
Mas o início do século XXI apresenta outros dilemas: o próprio conceito de humanidade está em debate. Empresas de tecnologia estão promovendo o “pós-humanismo”.
“Há empresas desenvolvendo terapeutas virtuais, namoradas virtuais... mas ainda estamos no início disso tudo”, diz Zuckerberg em sua entrevista.
Talvez eu seja ingênuo, mas acredito que os cardeais fariam bem, ao entrarem no conclave na próxima semana, se recordassem das palavras de Nosso Senhor no Evangelho segundo São João:
“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.”
É provável que Ele não estivesse buscando “likes”.
Artigo traduzido de: The Tablet. Autoria: Charles Collins. Tradução: Equipe Coisas do Alto.
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